sábado, 19 de fevereiro de 2011

Pelados de areia

Estava eu, sentada na beira do píer. Luar calado, vento singular. As ondas batiam nos barcos e diziam seus versos. Sentia a respiração do meu amigo. O ar se misturava com a fumaça do cigarro aceso. A voz arranhava a garganta, mas não chegava a sair som. Não havia motivação. O silêncio, apenas ele, me acalmava.
Os pensamentos distorcidos e embalados pela criatividade atípica que dispunha me levaram ao lúdico. Rompi o quieto momento, descrevendo meu devaneio. Imaginei de olhos abertos a aurora boreal. Senti-me viva. As cores, as luzes, a sensação, tudo parecia real. Meu singelo amigo desfrutou da mesma irrealidade.
Faz tempo que não sonho. A vida parou de ser minha. Sou do mundo e ele não é meu. Percebi que vivo numa casa de máquinas. E eu sou a mais nova maquina.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Miragens

Metamorfoses ondulatórias
Repelidas de uma mente
Idéias ilusórias
Que me batem de frente

Queria dizer mais do que disse
Fazer o que realmente sentia
Mas apenas me contive.
Pura covardia!

E ao olhar pra trás
Um aperto me afaga
Finjo-me de forte
Faço de conta que tudo se apaga

Eu virei um planeta,
Júpiter para ser mais correta
Uma viagem cósmica
Calada e discreta

Outra vez eu era uma estrela
Que se agonizava por não saber
Até quando as fusões durariam
Grande medo de morrer.

Agora sou humana
Isso me dá mais medo
Parece uma coisa insana
Esse meu desassossego.

Mas não é nada fora do normal
Pelo menos na minha realidade,
É só um pouco diferente
Da típica normalidade

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Desejo simbólico

Começo a cantar, os corpos se deliciam por mim. Todos me querem de maneira incomum. Os desejos desses homens de família se demonstram em prazer. Eu rebolo e danço e canto e finjo e imito e gozo. Recebo gorjetas. Disputam-me. Cobrem as ofertas dadas, mais um lance e mais um. Ponto final. Há um ganhador. Ele me leva, me ama, me seduz. Usa os mais diversos truques comigo. A pele macia roça o meu corpo sedento. Pela primeira vez não finjo. Sinto! Sinto-me viva, sinto-o em mim. A respiração é ofegante. Os meus hormônios discretos se entregam ao aflorarem pela minha pele. Suo. Eu evito, mas quero. Confundo-me. Ele põe mais dinheiro na minha perna. Eu agradeço, como de costume. Ele se entrega. Deixa-se ser meu e eu deixo-me ser dele. Carícias, seu pêlos, corpos, ombros. Suas mãos deslizam na minha pele. Toque suave que me faz suspirar. Cada parte do corpo dele era minha. Era sua dona e ele meu dono. Amávamo-nos sem vergonha ou pudor. O simples prazer carnal nos satisfez. Doce prazer que me levou, por segundos, ao delírio. Dessa vez tinha sido sincero. Realmente apaixonei-me. E isso era o que importava. A minha rotina de sexo por dinheiro parecia ter sido modificada. O carinho e o respeito muito ajudaram. Mas me sentir desejada, desta maneira diferente, me confundiu. Sempre tive o homem que quis. Sempre fui desejada. De repente este homem surge. Consegue-me por um alto valor e da mesmíssima forma me quer tão bem? Com a inocência nobre deste bom cavalheiro, ele me faz contorcer, leva-me ao orgasmo. Como é sutil o leve amor que tem por mim. Mas eu, na minha pose de dama da noite, mantive a minha compostura e disse: “O senhor me deve quinhentas libras”.