terça-feira, 13 de julho de 2010

Relógio Alegórico

Pacata casa de antiguidades. Seu interior tem uma decoração sutil. Muito singular. As mobílias são puras velharias que enchem de mistério e superstição a história deste local. Notei que meu anfitrião continha-se em relatar o superficial, tentando, num esforço incrédulo, ocultar os detalhes do lugar. Enquanto ele se entretinha em gabar-se de sua narrativa maldosa sobre a vida dos patrões, fiquei refletindo sobre certo objeto.
Era um relógio antigo, muito antigo. Aposto que deve existir a séculos. A madeira maciça cobre suas enferrujadas engrenagens. Magnífica madeira. Meticulosamente bem polida e cuidada. Os ponteiros parecem ser mais lentos que os habituais, porém muito mais precisos. Não sei ao certo porque fiquei tão fascinada ao vê-lo. O soar dos segundos me embriagava de ilustres pensamentos.
Imaginei quantos eventos ele presenciou. Não duvidaria que ele tivesse presenciado algumas cenas sombrias. Como quando a duquesa fora brutalmente assassinada, ou quando o marido tentava ocultar o cadáver de sua esposa infiel. Não creio que tenha visto apenas isso. Ele se deliciava ao notar belas moças desfrutando de um chá, revelando fatos. Sim, ele é o confidente. Observa ao longe, analisa cada acontecimento de maneira minuciosa, guardando pra si os mais diversos segredos. Desvendá-lo parece-me interessante, porém difícil.
Meu insistente anfitrião notou meu olhar curioso no velho relógio, me conduzindo até outra parte da sala. Enquanto isso, o relógio continuava ali, me observando, cada passo meu. Seu tic-tac tornou-se mais petulante. Sua presença era notável. Logo, sumi por uma escadaria e sua lembrança fez-se desaparecer. Porém, sei que ele guarda algo meu. Um sentimento de admiração que não contive perante aquela incrível presença.

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