sexta-feira, 23 de julho de 2010

Situada no sítio

Além das estradas
Refugio-me das ilhas de calor
Num local que muitos chamam de nada
Mas para mim, alcança o esplendor

O silêncio agudo que afaga
Provindo detrás do monte
Um eco surdo e calado
Vislumbrou meus olhos ao horizonte

Quero habitar fantasias
Ou um mundo que se refaz
Que se transforma a cada dia
Um lugar que me traga paz.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Relógio Alegórico

Pacata casa de antiguidades. Seu interior tem uma decoração sutil. Muito singular. As mobílias são puras velharias que enchem de mistério e superstição a história deste local. Notei que meu anfitrião continha-se em relatar o superficial, tentando, num esforço incrédulo, ocultar os detalhes do lugar. Enquanto ele se entretinha em gabar-se de sua narrativa maldosa sobre a vida dos patrões, fiquei refletindo sobre certo objeto.
Era um relógio antigo, muito antigo. Aposto que deve existir a séculos. A madeira maciça cobre suas enferrujadas engrenagens. Magnífica madeira. Meticulosamente bem polida e cuidada. Os ponteiros parecem ser mais lentos que os habituais, porém muito mais precisos. Não sei ao certo porque fiquei tão fascinada ao vê-lo. O soar dos segundos me embriagava de ilustres pensamentos.
Imaginei quantos eventos ele presenciou. Não duvidaria que ele tivesse presenciado algumas cenas sombrias. Como quando a duquesa fora brutalmente assassinada, ou quando o marido tentava ocultar o cadáver de sua esposa infiel. Não creio que tenha visto apenas isso. Ele se deliciava ao notar belas moças desfrutando de um chá, revelando fatos. Sim, ele é o confidente. Observa ao longe, analisa cada acontecimento de maneira minuciosa, guardando pra si os mais diversos segredos. Desvendá-lo parece-me interessante, porém difícil.
Meu insistente anfitrião notou meu olhar curioso no velho relógio, me conduzindo até outra parte da sala. Enquanto isso, o relógio continuava ali, me observando, cada passo meu. Seu tic-tac tornou-se mais petulante. Sua presença era notável. Logo, sumi por uma escadaria e sua lembrança fez-se desaparecer. Porém, sei que ele guarda algo meu. Um sentimento de admiração que não contive perante aquela incrível presença.

Espelho, espelho meu.

É outono. As folhas começam a se desprenderem dos maciços e finos galhos. O vento sopra no sentido sul sudoeste. O frio calado chega aos poucos e vai gritando até você percebê-lo. A minha caminhada matinal se torna mais preguiçosa. Isso tudo porque as cobertas ganharam um tom acolhedor, sair delas parece-me arriscado.
Durante minha caminhada notei uma triste janela. A curiosidade palpitava e me obrigava a desvendar tal lugar. Havia um quadro escuro e nebuloso na parede. Uma tulipa fúcsia ao centro, como diria um broto meu, muito sagaz ele, era a única coisa que parecia ter vida naquele lugar. As paredes eram claras, mas mudas. O armário era antigo com poucas roupas no interior. Uma mulher estava dormindo profundamente na cama. Ela não tinha expressão, nem de dor nem de alegria. Ela era monitorada por uma série de equipamentos. Seus batimentos eram lentos. Enfim, pude realmente perceber o que se passava, ela estava em coma. Uma folha toca a minha face e me causa certa preocupação. Quando vejo o quarto se foi e no lugar dele há um espelho

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Quadrado ao cubo

Quadradinho mundo mundano que vive esse rapaz.
Acredita ser o mais relax, o mais vivaz.
Mas é o mais babaca, o menos sagaz.

É manipulado por velhas crenças.
E acredita em punição.
Acha que tudo é como dizem.
Pura surperstição.

Ninguém se importa com o que tens.
Todos só querem saber de uma coisa.
Quanto vale os seus bens?

Pior são seus irmãos.
Que dizem pregar uma tal de verdade.
Todos acreditam e caem em bajulações
Mal sabem eles. Pura ingenuidade.

Pelos séculos se criaram
Como uma erva daninha
Todos já se acostumaram
Com toda essa ladainha.

O livre arbítrio que me leve
Para onde achar conveniente
Não me privarei de nada
Só por causa dessa gente.

terça-feira, 6 de julho de 2010

A manhã do amanhã.

Tudo parecia se resumir a perfeição. Enganam-se eles. Quando a farsa cai, o adeus se sobressai e dissipa aquela comum alegria. A inversão dos sentimentos, a confusão surgida, machuca ao criar um abrupto abismo de incertezas. O velho sentimento retorna e piora tudo. Dói mais dessa vez, porque é uma dor conjunta.
Queria eu poder acolher-te nesse momento. Mas nada posso fazer. Então, fico ao seu lado, calada, quieta, apenas percebendo a baixa sintonia que emites. Freqüência baixa. Quase inexistente. Permaneço ali, parada, esperando.
Com isso aprendi que o simples é comum e o raro uma utopia. Nada é o que parece, os disfarces são ilusões, a dor uma dispersão e alegria uma citação. Contento-me em ver mesmos retratos, as mesmas pessoas, em fazer as mesmas coisas, apenas porque há uma constante mudança implícita nisso. Não há porque perder tanto tempo com planos futuros. Há um hoje, um agora. E se este não estiver tão agradável, sempre podemos acreditar que há o amanhã.

domingo, 4 de julho de 2010

Palestra do Silêncio.

Por milésimos de segundos meus ideais tomam uma conotação diferente. Um ar revolucionário toma conta de mim. O debate esquenta, um sentimento de impotência começa a aparecer. Um impulso de mudança cresce, mas desaparece antes que eu possa entendê-lo. Percebo que me manipulam sem que eu note, quando vejo sou apenas mais uma pessoa inerte das tantas que formam a sociedade.
Alieno-me porque é mais fácil habitar meus devaneios. Katrina é minha mais nova cidade fantasia. É como se eu vivesse a maior parte do meu tempo em um mundo ilusório apenas porque é confortável. Um local protegido por muro gigantesco, contrastando com o nada que há ali. As paredes frias e mórbidas me acolhem. A segurança paira sobre mim. A mudança desaparece perante essa confortável situação que me coloquei. Durou pequenos instantes, mas já me habituei a viver no conformismo, na mesmice, na escuridão da ignorância na qual me encontro.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Mecânica música


Às vezes percebo como é bom se distrair. Ultimamente, admito que ando um tanto quanto mecânica. Sim! É essa a palavra. Nos últimos tempos estou no automático. Faço tudo mecanicamente. Mas hoje, apesar de tantas coisas, resolvi aproveitar. Não sai para alguma festa, não. Isso não me preenche. Resolvi ficar em casa, tomar um vinho, ouvir bossa nova. Gosto disso. Pode ser um tanto quanto “tiozão”, mas isso me relaxa, me distrai. Distração essa que eu estava precisando. Tudo isso me fez refletir.
Somos engolidos por um tempo pré-planejado, corrido, quase exausto. Caímos numa monotonia. É como se a nossa vida fosse levada por uma música que todos os dias se repete. Já sabemos sua letra, depois de cantá-la todos os dias, você se cansa. Aí, resolve mudar o disco. Um novo ritmo toma conta da vida. Porém, isso acaba e aquela melodia habitual retorna. Breves momentos. Mas quer saber, quem disse que o disco não pode ser trocado novamente?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sir Nuvem

Sou a filha mais nova de uma nuvem. Não entendo bem como eu sou. Meu corpo insiste em seguir o vento. Por causa dele, às vezes, deixou pedaços de mim por aí. Não é nada muito inspirador ser uma nuvem. Mas acredite habitar o céu é uma experiência agradabilíssima. No entanto, gostaria de saber como é tocar o chão. Uma vez, fui envolta numa tempestade.
Os velhos anciões do céu tomaram conta do pedaço, e numa bagunça geral, perdi-me de minha mãe. Sou bem solitária, não nego. Papeio com algumas aves que me sobrevoam. Nada que seja muito relevante.
Certo dia reparei que um grupo de amigos me observava. Eles zombavam de mim. Chamaram-me de pequena balofa sem graça.
Não me importo com isso, admito que ultimamente tenha comido bastantes gotículas de água. O fato é que ser nuvem é bacana. Mas não passa de um absorto devaneio de uma pequena poetisa. Falácia minha, fazer-te pensar que é tedioso ser nuvem. Ela pode ser sozinha, porém ela vive em um constante movimento, embalado pelo vento. Enquanto que você, caro leitor, está enraizado a esse seu cotidiano.