terça-feira, 2 de novembro de 2010

Meu saldo de sentimentos

O jantar está quase pronto. A louça está perfeitamente alocada sobre a mesa. Ainda faltam alguns convidados. Os que chegaram conversam cordialmente sobre assuntos diversos. O aroma exalado da cozinha seduz a todos.
A mesa está disposta de maneira impecável. Não há como não reparar nas travessas de prata, nos pratos amigos, no castiçal antigo. As pétalas espalhadas entre os pratos dizem boas vindas ao campo. Uma voz da cozinha silencia a todos. O jantar está pronto.
Entre uma garfada e outra, a conversa fluía, num tom alegre a nostálgico. Aos poucos os convidados que faltavam iam chegando e se sentando à mesa. Todos reunidos. Fazia tempo desde o último encontro. Este, porém, estava diferente. Acoplamos mais integrantes.
O que me chamou a atenção era um único lugar vazio. Interessei-me por ele. Foi tão convidativo. Era como se eu pudesse fazer mais uma vez parte do jantar. Enchi-me de dúvida. Não sabia ao certo o que fazer. Por impulso sentei-me.
A conversa se confundia com o tilintar dos talheres. Eu me mantive sentada. Arrisquei-me a dizer algumas palavras. Porém nem fui notada. Mesmo estando ali, eu não fazia parte daquilo.
A sobremesa é servida. Eu saí mesa, sentei num sofá mais ao canto, perto de uma janela. Acomodei-me ali. Pude notar a alegria do lugar. Minha atenção não ficou voltada a esse fato. Estava ludibriada por uma corda. Estava amarrada numa árvore. Não sei qual era a mais velha, a árvore ou a corda. Lembrei-me de sua serventia. Balanço, e um dos mais divertidos que eu conheci. Daquele dia até o do jantar já se passaram inúmeros outros. Eu fiz parte de algum deles. E isso é intrínseco a mim.
Um copo cai ao chão, despedaçando-se em inúmeros pedaços. Volto à realidade. Vi que alguns me olhavam. Era como se os olhos dissessem: “obrigada por ter vindo”. Sei que há um carinho muito grande, tanto da minha parte quanto da deles. Disso eu tenho certeza. O que tem me deixado insegura é a mudança. Não sei ao certo se quero fazer parte dela.
Os cacos são juntados. A conversa volta ao normal. Entre um devaneio meu e outro, palpito em algum assunto. Observo mais do que falo. É engraçado, alguns dos convidados já se foram. Nem os notei partindo. Talvez seja o mesmo comigo. Ou não.

Nenhum comentário: